POR UM MINUTO DE SILÊNCIO
Toda a lama se reverberou em noite
pelas correntes dos mares.
Mares das vidas enlameadas
que vêm e vão
sem se saber para onde.
As marolas de dantes acordaram tsunamis das lamas,
desnorteadas com o sabor insípido das noites do Homem,
sob nuvens de tempos escuros e malfeitores
desprovidos de horizontes, de consciência e piedade,
noites descambadas qual estrelas decadentes, apagadas
Desaguadas nas ondas petrificadas,
sem praias firmes para aportar seu digno féretro.
Uma tartaruga perdeu o ar
e o sentido das direções,
semitonou um grito de socorro inaudível ao mundo
desacelerou o coração pichado de óleo
e morreu sem saber da nada...
Sem a noção de que simboliza
o resfôlego do Homem
diante de si mesmo,
das mãos do mal de todas as suas instâncias
que negociam os destinos funestos da Terra.
Morreu dentre os arrecifes acidificados pelo ódio
incontido,
em meio à toda biodiversidade marinada de susto.
A vida sucumbe...
Em meio ao óleo drenado
de bilhões de anos fossilizados em carbono,
Ora ejetados pelos chafarizes das gigantes baleias zonzas de rumos
Envenenadas em plena vida...
Sucumbência...qual os atuais anos seguidos e perdidos,
de incontáveis chances enterradas sem dó,
dentre desabados castelos de infinitos grãos de areia,
Construídos de incontáveis pedrinhas
como o infinito duma construção que não se vê e não se alcança nunca.
São os tempos líquidos que escorregam pelos dedos pálidos,
em fluxos asfixiados nos âmagos das tantas dores.
Noites desligadas por todos os ditos astros
todos decadentes em si mesmos.
Num horizonte trêmulo e incerto
Cai a última estrela de piche grudento e mal cheiroso
A riscar o ofuscado céu prometido,
destruído na infernal galáxia desligada pelo nada.
Estrela moribunda...
nas águas fétidas,
a deriva qual todos os demais destinos desligados da luz.
Um cavalo -marinho agonizante
Ainda tenta, em último salto heroico
se livrar da corrente infinda submergida nos mares
advinda de todas as lamas da terra.
Ele, apesar da destreza inata pelos fluxos
também sucumbe, como todos, sem nada saber.
Num escuro imprevisível...
a desenhar um fogo de atrito na atmosfera
Um asteróide incerto como todo destino
risca o céu também desligado de propósitos luminosos.
Todo o verde se prepara para recebê-lo em silêncio
para seguir carbonizado em oração de fé holística
sem justa defensoria da sua causa perdida.
Ao menos uma defesa da vida!
Uma que transformasse em plena pena
toda a dor das vidas idas...
Um alívio em sublimação do que nunca se alivia:
A dor de não se poder acreditar em mais nada...
...que dependa da boa intenção dos justos.
E toda Terra, então, girará em vão
em mais um costumeiro minuto de Silêncio mudo.