História de pescador.
Rio, 06.11.2019.
História de pescador.
Areia do mar, brisa, maresia e sol,
Lancei minha linha na beira do atol.
Sei que o mar não estava pra peixe,
Mas eu nunca fui do tipo que
Precisasse de um cardume.
E lá na linha de um horizonte tunuê,
A cauda de uma sereia emergiu
Entre beleza e lume.
Eu, pescador sabido, tapei os ouvidos,
Pra não ouvir o feitiço do seu canto.
Mas já era tarde por que aquele olhar
(de ser do mar) se espalhou sereno e manso.
E agora ela vinha em minha direção,
Não mais em forma de sereia,
mas de mulher que ateia a chama
do corpo e do coração.
Ela, saindo d'água, tinha o
fascínio de uma aparição.
E eu feito peixe prego, ali fincado
com os pés no chão.
Já não sabia se ela era
realidade ou produto da imaginação.
Ela me sorriu com brilho de farol,
que orienta os navios perdidos
em meio a tempestade.
Acalmou minha tormenta,
Restituiu a minha paz.
Ela tinha o aconchego das marés,
um perfume suave e contumaz.
Tinha a mansidão do mar em
dias sem corretenza.
A profudidade de saber ouvir.
E em seus olhos de imensidão cabia
Toda a minha intensidade de existir.
Foi tão feliz o nosso encontro
que esquecemos, de pronto,
da nossa condição de seres díspares.
Habitantes de universos tão diferentes.
E era como uma peça Shakespeare:
"Um sonho de uma noite de verão"
numa praia caliente.
Sim, não duvido. Tudo pode ter sido apenas
Um delírio, história de pescador
Enterdido com seu o anzol.
Areia do mar, brisa , maresia e sol,
Puxei minha linha na beira do atol.
Clayton Marcio.