A FORTALEZA OCEÂNICA
Mar revolto é bravura
enfeitada por ondas,
espumas e brancura
vistas como vãs rondas.
Mui salgado e tão lindo
em cor azul que abunda,
fazenda de peixe rindo,
berço de água profunda.
Triste choro mágico
na zoada do mar salso,
lembrança do trágico
ou ninar do ser falso.
Rebolado torto e feio,
que trazendo corpos lá,
tudo leva pro seu seio
qual uma cobra mui má.
Oceano de todo ser
é lutador cativo,
em cuja ação pode ter
qualquer corpo são ou vivo.
Sua robustez tem porte
da cara da crua vida
e sendo ele tão forte,
sua história é bem lida
em naufrágios pro fundo
– corpos se vão veloz,
revelando pro mundo
a violência de um algoz!
Se a calmaria é boa, é mudo;
sem ventanias, dorme só;
se lufadas vêm com tudo,
maltratam o mar sem dó,
que é furioso lutador
tragando o que perto for
dele – monstro tragador –
ou o que sobre o tal se pôr.
Comedor de tudo enfim,
faltando–nos certo dom
pra fugir da fúria ruim
e amansar o dragão bom.
Salvador, 1998.