Sociedade dos amores vivos

Tem dias em que se me juntam

todas as mulheres que amei antes

da que hoje amo.

E recordamos momentos

que ficaram eternizados.

Uma me fala da cara que fiz quando carregou

minha mochila na escola;

outra me pergunta qual era o carro

onde nos encostamos naquela noite estrelada;

outra, ainda, acusa-me, como há tempos,

de minha indecisão;

outra ri de minha falta de jeito

no primeiro beijo;

outra recorda canções

que cantamos juntos;

outra tira do bolso o papel amarelado

com aquele poeminha antigo.

E sorrimos, andando pela praia, ora pela rua,

ora pelo campo, ora sentados na praça,

de acordo com a sugestão de cada uma.

Por vezes surgem disputas entre elas,

o que me enche de orgulho.

Não tremo mais diante delas.

E elas fingem, como sempre fizeram,

que aquilo é mérito meu – e não um presente que me dão.

Me fazem sentir um semideus.

Quase nada falo, apenas observo cada uma.

Continuam lindas como na época em que as conheci.

O tempo corre

e a hora me obriga a partir.

Deixo-as na estrada,

o melhor lugar para uma despedida,

pois é lá que elas sempre estiveram.

Quando me distancio e lágrimas quentes me descem na face

eu me viro e digo:

“Ainda as amo, todas!”.

Elas me sorriem.

Então caminho por horas e horas

até o entardecer.

No peito uma saudade doce

e nos lábios

canções de amor.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 02/11/2019
Código do texto: T6785740
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.