Sociedade dos amores vivos
Tem dias em que se me juntam
todas as mulheres que amei antes
da que hoje amo.
E recordamos momentos
que ficaram eternizados.
Uma me fala da cara que fiz quando carregou
minha mochila na escola;
outra me pergunta qual era o carro
onde nos encostamos naquela noite estrelada;
outra, ainda, acusa-me, como há tempos,
de minha indecisão;
outra ri de minha falta de jeito
no primeiro beijo;
outra recorda canções
que cantamos juntos;
outra tira do bolso o papel amarelado
com aquele poeminha antigo.
E sorrimos, andando pela praia, ora pela rua,
ora pelo campo, ora sentados na praça,
de acordo com a sugestão de cada uma.
Por vezes surgem disputas entre elas,
o que me enche de orgulho.
Não tremo mais diante delas.
E elas fingem, como sempre fizeram,
que aquilo é mérito meu – e não um presente que me dão.
Me fazem sentir um semideus.
Quase nada falo, apenas observo cada uma.
Continuam lindas como na época em que as conheci.
O tempo corre
e a hora me obriga a partir.
Deixo-as na estrada,
o melhor lugar para uma despedida,
pois é lá que elas sempre estiveram.
Quando me distancio e lágrimas quentes me descem na face
eu me viro e digo:
“Ainda as amo, todas!”.
Elas me sorriem.
Então caminho por horas e horas
até o entardecer.
No peito uma saudade doce
e nos lábios
canções de amor.