A curva

Certo dia,

cansado de longa caminhada,

sentei-me à beira de um riacho.

As costas me doíam.

Revirando a mochila, encontrei velhas pedras,

cada uma com sua história.

As mais pesadas, de momentos muito ruins

que ainda me assombravam.

As mais leves, de deslizes que cometi.

Outras minúsculas

de velhas perdas,

algumas de décadas.

Só então senti a marca da alça da mochila nos ombros

quase em carne viva.

Resoluto, joguei toda as pedras no riacho.

Foi um renascimento!

Desde então, na mochila só carrego plumas e folhas secas.

Não pesam, porque remetem ao que de bom a vida me deu

e ao que de bom eu já fiz.

Naquela curva e naquele momento

Decidi que nunca mais

aceitaria um corvo chato e rabugento

pousado em meus umbrais.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 02/11/2019
Código do texto: T6785727
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