A curva
Certo dia,
cansado de longa caminhada,
sentei-me à beira de um riacho.
As costas me doíam.
Revirando a mochila, encontrei velhas pedras,
cada uma com sua história.
As mais pesadas, de momentos muito ruins
que ainda me assombravam.
As mais leves, de deslizes que cometi.
Outras minúsculas
de velhas perdas,
algumas de décadas.
Só então senti a marca da alça da mochila nos ombros
quase em carne viva.
Resoluto, joguei toda as pedras no riacho.
Foi um renascimento!
Desde então, na mochila só carrego plumas e folhas secas.
Não pesam, porque remetem ao que de bom a vida me deu
e ao que de bom eu já fiz.
Naquela curva e naquele momento
Decidi que nunca mais
aceitaria um corvo chato e rabugento
pousado em meus umbrais.