EU VEJO A POESIA

Eu vejo a poesia

no rosto envelhecido

onde as marcas mostram as experiências

as lágrimas

os sorrisos...

Veio a poesia no vento que bateu

na maré que passou

nos sonhos guardados nas memórias

por vezes enfraquecidas

Eu vejo a poesia num brinquedo

numa luz distante

como se tudo tivesse ainda alcance

Eu vejo poesia

no brilho das gaivotas

que passam pela manhã

correndo para o Rio,

no sol batendo nas águas tranquilas

despejando sobre si próprio

a vontade de banhar e ser navegado

por qualquer barco

Eu vejo poesia

num sono tranquilo de um bebê

de um recém nascido

de uma criança maior

que sorri ninguém sabe porque

talvez eu veja poesia, nesse rosto,

por transmitir tanta paz

e uma serena inocência...

Eu vejo poesia

na Água dura

na chuva que cai

que molha

onde pássaros daqui a pouco

irão se banhar

ou quem sabe, talvez, brincar

ou ainda, matar a sua sede

Eu vejo poesia,

Em rios, plantas e animais da natureza

Que por vezes, se encontram em festa

Quando ainda estão seu em curso natural

sem interferência do homem

Eu vejo poesia,

no homem que banha no Rio

naquele que brinca,

que rola

que tira conchas do mar

que vive olhando o Horizonte perdido

como se fosse buscar o sol ,a lua, as estrelas...

quem sabe até, arrebanhar sonhos tranquilos

Eu vejo poesia nos cantos de músicas

que o vento bate e traz e leva

por onde passa...

Eu vejo poesia

no rosto dos namorados

naqueles que se amam

por trás das moitas,

naqueles que sonham juntos a beira dos rios

aqueles que parecem esperar as marés enchentes

e vazantes...

Vejo poesia onde tempo não parece passar

onde o relógio parou de trabalhar

o tic tac já não se ouve

o som agora é do computador

é do celular

é do telefone sem fio

é do telefone antigo que ainda resiste a tocar

Eu vejo a poesia

no rosto do homem que amo de longe

naqueles olhos que parecem atravessar

o tempo e o espaço,

conseguindo entrar na minha alma

Eu vejo poesia

no meu coração que bate

que insistentemente me faz lembrar de alguém

que se foi nunca mais voltou

que fechou a porta

que fechou a janela

que fechou o horizonte

para eu nunca mais o olhar...

Eu vejo poesia

no livro escondido na prateleira

naquele esquecido que de vez em quando eu me lembro

ou alguém se lembra e folheia

Eu vejo poesia na noite adormecida

no tempo parado

na vida triste

na alegria

vejo e sinto a poesia em um choro de surpresa

de alguém chegando

Eu vejo poesia

no tempo perdido

nas palavras vãs que foram ditas

e se perderam no labirinto de memórias

jogadas de um baú do esquecimento

Eu vejo poesia

onde antes eu nem via

num caderno velho amarelado

onde palavras já estão comidas pelas traças

mas lendo pedaços cheios de sentidos

torna a alma mais leve

mais branda

Eu vejo poesia

em um grito de alerta

no grito de socorro

no grito de amor

de sol

de chuva

de vento

de terra

de água

DE FOGO

QUEIMANDO EM MIM...

Raimunda Lucinda Martins