SONETO DO ESQUARTEJAMENTO
vi meus braços a três pés de mim;
minha perna esquerda, a que doía,
jazia num ângulo estranho, assim,
de modo que pude ver por onde o osso saía.
minha cabeça, poupada no tronco,
conversava com minha púbis envergonhada.
os pulmões sem o nariz silenciaram o ronco
e a boca não mais se enchia dos dedos separada.
minha perna direita, a que me guiava,
perdeu-se por aí carregando sua ferida
como estandarte.
o que ficou de mim ainda sangrava
em tantos tons que a dor outrora sentida
tornou-se obra de arte.