SECA
Há um ano que não chove.
Caem pássaros das árvores
como frutos ressequidos.
Da terra saem mãos escanifradas
em súplicas de sede.
Os rios soluçam
nas pedregosas margens
em dolentes e débeis cachoeiras.
Os trigos, derreados, cabisbaixos,
curvam-se e já não se ornamentam
de papoilas.
Os ventos assobiam medos
por entre os olivais
e arremetem contra os frutos
ainda em flor.
As minhas lágrimas
deixaram de correr.
E os crentes ajoelham ante a cruz
e erguem os olhos, numa prece:
Um copo de água, Senhor...