O RETIRANTE
Sob sol inclemente ele segue,
Cumpre sina de sede e inanição.
No embornal de pano, a tiracolo,
Leva o aceno, as saudades de casa,
A resignação de não voltar.
Cumpre sina de sede e inanição.
No embornal de pano, a tiracolo,
Leva o aceno, as saudades de casa,
A resignação de não voltar.
No olhar desalentado e seco
A paisagem é baça e febril.
O último açude dos olhos
Já molhou as rugas curtidas,
O corpo vincado e ressequido...
Em marcha, arrancado de seu chão.
Sem rota. Só.
Ah, sertão nordestino...
Ser tão este o seu destino,
Que não vinga e que se vinga.
Flagelo da seca,
Que rasga, disseca,
Flagelo da vida...
Retira do retirante as carnes,
Os sonhos e o futuro,
A dignidade e o direito.
Seco.
Os ossos vivos
Tornando-se pó.
Tela de Cândido Portinari , "Os Retirantes".