À sombra dos olhos mortais (II)
Um efêmero vulto, tomado de fúria,
Disparava, mergulhado num prazer insólito,
Mata adentro, cortando a chuva latejante,
Que fazia a mata chorar, no mais absoluto silêncio.
Molharam-no as gotas, com a presteza do tempo...
Soprava-lhe na face o doce gosto do vento;
Carregado de mágoas de outros dias,
Fazendo ranger de dor os velhos galhos robustos.
Fora ele quem fizera deflagrar a morte;
Que chegara trazendo consigo o véu da noite,
Ocultando-lhe o rosto temido por muitos...
O coldre lhe adornava as vestes,
Além de conter a ceifadora daquela vida.
Cessara, com ferocidade, mais uma alma.
Alheio à piedade humana,
Sentiu-se impelido a tornar aquela hora,
Aquele instante único,
No derradeiro instante
De seu algoz.
Mas afinal todos nós somos inocentes.
Mesmo que se prove o contrário.
Somos inocentes ou culpados?
Somos inocentes e culpados.