À sombra dos olhos mortais (II)

Um efêmero vulto, tomado de fúria,

Disparava, mergulhado num prazer insólito,

Mata adentro, cortando a chuva latejante,

Que fazia a mata chorar, no mais absoluto silêncio.

Molharam-no as gotas, com a presteza do tempo...

Soprava-lhe na face o doce gosto do vento;

Carregado de mágoas de outros dias,

Fazendo ranger de dor os velhos galhos robustos.

Fora ele quem fizera deflagrar a morte;

Que chegara trazendo consigo o véu da noite,

Ocultando-lhe o rosto temido por muitos...

O coldre lhe adornava as vestes,

Além de conter a ceifadora daquela vida.

Cessara, com ferocidade, mais uma alma.

Alheio à piedade humana,

Sentiu-se impelido a tornar aquela hora,

Aquele instante único,

No derradeiro instante

De seu algoz.

Mas afinal todos nós somos inocentes.

Mesmo que se prove o contrário.

Somos inocentes ou culpados?

Somos inocentes e culpados.

Valter Pereira
Enviado por Valter Pereira em 02/10/2007
Código do texto: T677978
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