À BORDO
No convés o alvoroço
A fome doída em carne e osso
Quem vai buscar água no poço
Ninguém quer
É serviço de mulher
Acabou o bife macio
Discórdia no covil
Balança o navio
Pulam na água, faltou escaler
No prato uma mixórdia
A conversa monocórdia
Pode cantar uma paródia
Quem souber
Na mão a arma branca
Corpo fechado na retranca
A ferida, a perna manca
Não deixa correr
A mordida no lábio
Ora pro nobis, reza o sábio
Folheia o alfarrábio
Querendo aprender
Quando não dá certo
Roga uma praga (de madrinha)
Saca rápido a adaga (afiadinha)
Cumprindo sua saga (depressinha)
De matar ou morrer
Na água viva vermelha do mar
Flutua um barco fantasma
O marujo se entusiasma
Tosse tanto ao ver a dona
Tem a crise de asma
A mãe corre faz um chá
O pai no sofá feito paxá
Será que sai na faixa
O churrasco e a caninha
Gol contra a bola passa a linha
Hoje o jantar é só farinha
Solta o galo lá na rinha
Quem dá mais neste jogo
Faca perdida no ar
Dor na pele, a queimar
Carrasco chicote em fogo
Não é permitido sonhar
Navegar será mesmo preciso
Sem mapa, esquadro de improviso
Até por fim encontrar
O rastro da estrela Polar