À BORDO

No convés o alvoroço

A fome doída em carne e osso

Quem vai buscar água no poço

Ninguém quer

É serviço de mulher

Acabou o bife macio

Discórdia no covil

Balança o navio

Pulam na água, faltou escaler

No prato uma mixórdia

A conversa monocórdia

Pode cantar uma paródia

Quem souber

Na mão a arma branca

Corpo fechado na retranca

A ferida, a perna manca

Não deixa correr

A mordida no lábio

Ora pro nobis, reza o sábio

Folheia o alfarrábio

Querendo aprender

Quando não dá certo

Roga uma praga (de madrinha)

Saca rápido a adaga (afiadinha)

Cumprindo sua saga (depressinha)

De matar ou morrer

Na água viva vermelha do mar

Flutua um barco fantasma

O marujo se entusiasma

Tosse tanto ao ver a dona

Tem a crise de asma

A mãe corre faz um chá

O pai no sofá feito paxá

Será que sai na faixa

O churrasco e a caninha

Gol contra a bola passa a linha

Hoje o jantar é só farinha

Solta o galo lá na rinha

Quem dá mais neste jogo

Faca perdida no ar

Dor na pele, a queimar

Carrasco chicote em fogo

Não é permitido sonhar

Navegar será mesmo preciso

Sem mapa, esquadro de improviso

Até por fim encontrar

O rastro da estrela Polar

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 26/10/2019
Reeditado em 27/10/2019
Código do texto: T6779429
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