EM "OFF WHITE": A BRANCA DA NEVE
Bem cedo eu a avistei de longe, sem me atrever a enxergá-la.
Seguia menina mulher e sequer imaginou ter de clamar por licença.
De repente, num gesto de desespero,
descobriu que também não tinha cor.
Apenas vinha,
solta e fluida,
pela sua rota "off-white".
Caminhava pelos sopros sem fazer contrastes,
sempre a pedir desculpas
pelas tantas diferenças criadas
que nutriam de frios todos os gelos crescentes.
De tão branca...às vezes se sentia azulada,
miragem dos cristais das neves
que encharcam e machucam os solos descoloridos.
Como sempre criança que vinha, sabia brincar.
Fazia desenhos escavados nos gelos,
dentre nuanças dos tantos frios imperceptíveis que congelam os mundos.
Quando se é criança, aprendeu, toda dor parece festa.
Chapinhava no gelo derretido profundas linhas que prontamente
se esvaneciam pelos parcos sóis.
Só por diversão, procurava incessantemente por todas elas.
O que levava e levaria
por fora e por dentro,
nunca havia escolhido.
Mesmo assim, acreditou que pudesse.
Guardava o todo encontrado na mochila do tempo,
colecionava pedrinhas e folhas desprendidas
Tudo arrumado com carinho...
Só para, vez ou outra, rever as formas do já que fora,
sempre encantada com seus propósitos.
Mas...
Era simplesmente branca da neve, dum pálido desbotado, algo já proibido, contestado, como todas as outras agressões frias e invisíveis
pelos icebergs amontoados.
Tudo nunca frutos dos frios dos acasos.
De longe queria dizer à surdez fria do entorno,
que mesmo branca,
feita da nuança da neve tão perene,
pulsava no coração as dores de todas a cores!
A dos mares enlameados
A dos ares esfumaçados,
A dos ventos ao leu ventados
A dos céus intoxicados
A do verde carbonizado...
A dos seres abandonados.
Pulsava inclusive
O invisível da brisa dos sonhos prometidos
Sequer tangenciados pelos séculos das mentiras.
Trazia consigo
As cores de toda mágica dos livros que contavam mundos de paz, todos incendiados pela fantasia dos tempos perdidos
Os de iguais gritos e destinos.
Quase por milagre,
branca da neve,
aquarelava seu mundo sem modular cores das diferenças pelas linhas pinceladas.
Acreditava ser branca por tela do desconhecido,
só porque, vez ou outra,
se ouve dizer desses infortúnios que pelo tempo ninguém explica...
Mas os negocia.
O infortúnio das diferenças reforçadas que rendem desgraças.
Ainda tinha fé,
mas nunca dessa fé alienada
às convenções dos ritos humanos
as que trapaceiam as esperanças.
Certa vez, num sussurro do vento, entendeu que ninguém tem culpa pela alheia história atemporal ao seu tempo.
Então,já não sentia culpa por nada.
Embora ainda se desculpasse por tudo.
Soltou um grito parco.
Embora fragilmente pálida,
Por entre os espaços descoloridos de essências principais.
Pela resistência de se coexistir como verdadeiramente igual
em meio ao todo cada vez mais hostil e diferente.
Fazia frio...ela sabia.
Devia ser só porque toda neve é fria.
Então, aprendera a ventar aos quatro ventos, também uivante da gélida frialdade.
O tempo corria...num off white atemporal
pelos mundos aquarelados de inconsciência.
Contactava sonhos possíveis.
Ninguém respondia porque é preciso olhos sãos e ouvidos atentos para se responder aos chamados dos silêncios.
Certo dia o vento lhe soprou aos ouvidos:
"Você é poesia!"
Foi quando entendeu toda a mágica
da sua agonia.
Então se viu só missões
"Off -White" de grandes pretensões,
além de apenas se ser o que se é.
Seguiu...
Branca dum medo pálido,
Em perene verso de gelo
soerguido
da coletiva e perene neve existencial.