Rita, volta!

Cissa de Oliveira

short story para Rita, seja lá quem for

Eu logo pressenti hoje cedo quando abri a janela. Alguma coisa mexia com a cidade, como se ela fosse um imenso salão de baile ao sol bem peneirado da manhã, ao som de Vivaldi e já entrecortado com celestiais espumantes. O que seria? Alguma coisa revolvia-se no ar.

A caminho do trabalho, eu e mais o restante da população que saiu às ruas pode constatar, pelos “outdoors”, o motivo da magia espalhada pela quinta-feira da cidade: uma não ennigmática mas abreviada mensagem de alguém, muito provavelmente, apaixonado. “Rita, volta!”. Só isso. Letras alvas como as rosas de um vaso de cristal no altar, colocado entre o sussurro de alguma prece, quem sabe, até, de uma promessa. O fundo do “outdoor” contrastando com o branco das letras era vinho, de um vinho contido, encorpado, e ainda assim, alegre, como se trouxesse em si, a reafirmação da promessa alva das letras, e do invisível que habita nelas.

Não pude deixar de pensar, “há alguém com um punhal no coração, e só tu, Rita, é quem pode tirá-lo”. Não sei o que mais poderia alguém pensar, no fluir apressado das horas

na cidade. Há quem não olhe; há quem olhe e faça versos, poemas, prosas; há quem olhe e ache piegas; há quem olhe e não veja nada, e há quem olhe e leve um tapa na cara, como se lesse uma afronta, bebendo um vinho azedo de indiferença, como se o amor não existisse de verdade, e como se a cidade não se chamasse Campinas, fonte de flor e poesia!

Há mesmo gente assim por todas as cidades, mas eu já fiz a minha parte, e tu, Rita, vais ficar parada?

Rita... volta!

Cissa de Oliveira

www.cissadeoliveira.weblogger.com.br

11.10.04

Cissa de Oliveira
Enviado por Cissa de Oliveira em 05/11/2005
Reeditado em 05/11/2005
Código do texto: T67744