Solilóquio melancólico na paisagem fosca das estrelas adormecidas
A vida é uma porta fechada
De um vizinho desconhecido
Sem nome, identidade
Endereço, personalidade
Indefinido, o que ainda virá a ser
Mas se será agora não é, o futuro seria?
O futuro é nossa projeção distorcida
Do presente que não aconteceu ainda
Respiro os males do século nessa vinda
Que ainda fraturam minha vértebra
Relembrando inexistentes célebres
Que nunca foram celebrados na ceia
Apenas com seus crânios expondo sua beleza
No banquete dos senhores, em cima da mesa
São os exóticos demônios terrestres
Cínicos leões com seus títulos e testes
O silêncio nesse cômodo é um eco eterno
De todas as vozes abafadas ou caladas
As portas só transmitem
Aquilo que não decodifico
O suor frio no vento que passa
É a sensação de liberdade
Libertadora ou tão ilimitada
Quem é muito livre se afoga
O que há antes do dicionário, símbolos?
A comunicação feita por toscos rabiscos
O que há antes das letras escritas em argila?
Frases, gritos, risos, piadas, cantigas antigas?
Riscos em rochas aparentemente sem sentido?
Antes da noite também se tornar o dia
Antes do ideal de vida se pautar na bíblia
Apenas a consciência tínhamos
Me perdi no que antecedeu isso
Quanta inconsciência teve pra isso?
Quanta consciência em excesso havia?
Quantas crenças falsas constituem a moralidade?
Ou moralismo, fruto do discurso corrosivo da virtude
Só creio no que não vou até o âmago, por isso não sou tão crédulo
O absurdo se tornou real pra mim pra se tornar parte da realidade
Crenças falsas enterradas na moral não são tão surpreendentes
Pra quem já é indiferente à verdade e vê tudo de acordo com suas lentes
Conceitos e formas inscritas esqueço
São escadas que subi tantos degraus
Que se retorno o caminho, desço e não sei onde caio
Não sei se vôo, aterriso ou na superfície me despedaço
Juntar os cacos que cortam esse braço
É o que motiva a continuar, tentar estancar
O sangue apetece, ápice da adrenalina instintiva
Só valoriza a vivência quem luta pra manter essa vida...