Súplica
Oh Deus, por favor me devolva meu
poema.
Levei uma semana com ele na cabeça
nos ouvidos, nos olhos, na mão.
Tive-o prontinho
leve, poucos adjetivos
muitos substantivos, nenhum gerúndio
nenhum advérbio de modo
nenhum pedido de amor.
Sabe, gostaria muito de tê-lo escrito
gostaria de ser agora
o amigo que não lhe fui outrora
gostaria de saber como ele se portaria
disposto num pedaço de papel.
Sabe, já sou um poeta tão limitado
não escrevi a Odisseia
e minha alma não terá forças
para suportar uma Temporada no Inferno
será que não mereço o eflúvio
que meus parcos poemas me dão?
Oh Deus, agora é noite em todo coração,
que a todos seja permitido o sono angelical
que eu durma e encontre lá
o poema que perdi aqui
e que ao amanhecer possa tê-lo na cabeça
nos olhos, nos ouvidos, na mão,
enfim no papel.