VERBO TRANSITIVO DIRETO
Perder é uma arte
Perde-se o amigo do peito.
Perde-se o amor da vida.
Perde-se a ilusão de amar.
Perde-se o caderno, o lápis e a borracha.
Perde-se o casaco em algum ponto de ônibus.
Perde-se o tempo, o relógio, as estribeiras.
Perde-se a si próprio.
Perde-se o programa de TV.
Perde-se as horas.
Perde-se o movimento.
Perde-se uma parcela da vida ou a vida em sua totalidade.
Perde-se a sanidade.
Perde-se a sensibilidade.
Perde-se cartas, memórias, lembranças.
Perde-se um livro.
Perder é uma arte.
Perde-se a coragem.
Perde-se o inimigo.
Perder-se a vontade – seja lá qual for.
Perde-se a casa, o carro, a mulher.
Perde-se a loucura.
Perde-se a viagem.
Perde-se um par de sapatos.
Perde-se o interesse.
Perde-se o desejo.
Perde-se dinheiro.
Perde-se certezas.
Perde-se dúvidas, também.
Perde-se as perguntas, respostas e teses.
Perde-se até os paradoxos.
Perde-se os defeitos, as deformidades da alma.
Porém, perder é uma arte: na medida em que se perde, a vida ganha as lacunas.
Lacunas que podem ser preenchidas por tecidos brancos, para pintar um novo dia.
Depois,
simplesmente, perde-se de novo e mais uma vez e outra e outra, por isso:
Perder é uma arte: uma necessidade.