Anteparo
Venho até aqui cantar
o amor que não te acontece,
Trancado em tua laringe,
Estancado no teu âmago embaraçado,
Toda volúpia latente
em tua corrosiva sensatez,
O acender de tua carne
ardendo no teu corpo calado,
Toda palavra entrecortada
por teu pudor asfixiante,
Teus gestos dissimulados
tentando enganar inutilmente
teu coração incendiário;
Venho aqui cantar tua fome
contida nos olhos que desvias
de maneira cômica quando flagrada,
Tua sede de céu e saliva
engolindo teus dedos em noites vazias,
Tua embriaguez delatora
de teu desejo e falta de coragem,
Tua solidão povoada de anseios
e saudades do que não teve,
Teu encontro marcado com a ausência
dos amores que deixares passar;
Venho aqui convidar-te ao descuido.