Não-ser

Não é por querer que se quer

Não é por ter que se tem

Não é por viver que se vive

Não é por sonhar que se sonha

Não é por poder que se pode

Não é por merecer que se merece

Não é por ser que se é

Não é

Entende onde quero chegar?

Não é o destino um cúmplice

O amor, um punhal

A paixão, uma droga

A vida, um quintal

Em que se possa correr para todo lado

Desconectado do mundo real

Se você chegou até aqui

Deveria olhar para fora

Além da janela aberta

Por trás da cortina de fogo

O azul e o verde

As cores de uma nova manhã

Eis o teu prêmio, indefinível

Não é porque amanheceu que é manhã

Ou que seja se o for

Mas não é sobre isso a vida

É sobre estar, simplesmente

Esquecido de quem se é

De quem as pessoas, todas as outras,

Querem que você seja

Bom mesmo é não ser ninguém

Ser apenas o sopro de uma realização

O sonho de um forasteiro

O arco sem flecha

O livro sem nada escrito

Vazio como o tempo de ser

De não-ser, sempre e nunca,

Um nada

João Barros
Enviado por João Barros em 11/10/2019
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