Não-ser
Não é por querer que se quer
Não é por ter que se tem
Não é por viver que se vive
Não é por sonhar que se sonha
Não é por poder que se pode
Não é por merecer que se merece
Não é por ser que se é
Não é
Entende onde quero chegar?
Não é o destino um cúmplice
O amor, um punhal
A paixão, uma droga
A vida, um quintal
Em que se possa correr para todo lado
Desconectado do mundo real
Se você chegou até aqui
Deveria olhar para fora
Além da janela aberta
Por trás da cortina de fogo
O azul e o verde
As cores de uma nova manhã
Eis o teu prêmio, indefinível
Não é porque amanheceu que é manhã
Ou que seja se o for
Mas não é sobre isso a vida
É sobre estar, simplesmente
Esquecido de quem se é
De quem as pessoas, todas as outras,
Querem que você seja
Bom mesmo é não ser ninguém
Ser apenas o sopro de uma realização
O sonho de um forasteiro
O arco sem flecha
O livro sem nada escrito
Vazio como o tempo de ser
De não-ser, sempre e nunca,
Um nada