TEMPO, TEMPO, TEMPO, TEMPO
"para a mina de fases que tatuou rosas"
Deixar ir
talvez o sentimento, talvez a cidade.
Deixar que se perca entre os muros, os edifícios que nos circundam.
Deixar-se perder, o tempo, a vida, o sentimento
como que procura por ti nas latas de lixo espalhadas, em cada bueiro sujo
da cidade.
Deixar ir
perder-se
te perder
reencontrar
eu
a mim
de outra forma, de outro jeito
feito faca de dois gumes, perpetuar-se no outro lado, naquele que você não existe.
Pois – e somente -. Somente:
Te deixo ir, fujo dos teus descampados, das tuas planícies, do teu magnetismo.
Daqui, deste lado, o lado de cá, de Cronos.
Cronos espaço, Cronos tempo, Cronos terra.
Cronos transformado em Kairós.
Eu transfigurado pela simples ação de deixar ir
você, o que não me serve, você que me afugente.
Deixei ir três amores, três homens, três amigos, uma irmã...
Agora
Deixo ir Cronos e junto com ele você.
Sou Kairós.
Oportuno, instante-agora, já, quando deixo-te ir.