DO CHÃO AO ABRAÇO
Caído e ferido fui capaz de ver-te.
Tuas dores maiores que a minha
Embora em pé, tu sofrias,
E eu no chão, em agonias,
Só sentia tuas dores
E pensava nas flores
Que eu poderia de dar.
Em nenhum instante
Pude pensar em mim
Ao ver-te assim...
Num 'horto' em choro
Com as lágrimas presas
Olhando pra mim.
Pensei: como eu ferido
Posso tornar menos garrido
O teu brado de dor!
Então, embora ensanguentado,
Eu fui quem deu o grito
Por que já estava escrito
Que assim seria
Para que a tua alegria
Voltasse.
E quando te vi sorrindo
Foi rápido diminuindo
A minha dor.
Levantei,
Eu te abracei,
E provei que mesmo no chão
Posso engrandecer um coração
Que precisa de mim.
Esse é o verdadeiro valor da vida,
Doar vida
Esquecendo-se da própria ferida,
Para olhar e oferecer guarida
No abraço e no perdão.
Ênio Azevedo