Carteiro de Seattle II
Um homem humilde,
tão humilde e carpinteiro
como o próprio pai de Jesus,
decidiu entregar uma carta a Deus.
As crianças da escola do bairro
ajudaram no pedido
e o encorajaram com seus risos
e lhe deram força
com a ledice de seus abraços.
Perguntaram: por quê?
Porque eu posso, respondeu,
porque eu posso
Subir lá em cima e ver a beleza
que ninguém pode ver.
Eu tenho que fazer isso.
Ele subiu onde
o pombo-correio
jamais conseguiria
planar.
Obstinado
escalou montanha
a montanha,
todos os picos
até o mais alto
e, cansado,
chegou com a carta
a seu destino:
ele encontrou Deus
no topo do Everest.
Riu, chorou.
O Senhor
retribuiu e fez uma proposta.
O carteiro não respondeu.
Estampou um sorriso ameno
para refletir a luz
daquela manhã fria na sua face
e meditou sua palavra.
Muito cansado
sentou para contemplar
a beleza que ninguém pode ver,
suspirou profundo
e continuou a sorrir
ao perceber a timidez do sol
escondido sob as nuvens.
Agora ele tinha as asas do desejo
em suas costas. Fechou os olhos
e aceitou a proposta de Deus.