O FALSO GOBELIN DE GERUSA RAMALHO
sentada, ainda te lembras,
do desenho do tapete quando este era novo,
de um verde cheiroso
e primorosa simetria.
seriam flores aqueles riscos
que pareciam rir para quem os apreciava?
tão delicados, com o verde ornavam
e com as paredes se entendiam.
hoje nem as paredes confabulam,
preocupadas com a própria pintura,
decaída em tons de hanseníase,
úmida, decrépita.
o falso gobelin sob teus pés se desfaz,
pouco a pouco, a trama esgarçada,
os fios serpenteando pelo assoalho,
quase sem fim
até que reste apenas um vestígio do que foi,
o fleumático serviçal que não fala mas escuta,
reduzido ao terminal estado em que tudo se encontra,
tua casa, teus livros, teus discos do altemar dutra.