A Sombria Lista dos Recusados
Roberto Bolaño foi recusado
por 168 editoras e escrevia
pelas ruas na esperança
de iludir catedráticos
e encantar editores imbecis,
depois conseguiu ser editado
e depois morreu na fila dos hepáticos
à espera de um fígado;
e. e. cumings foi ridicularizado
até a alma ir aos portões de Valhalla
e ao voltar foi editado
e depois dragado pela sarjeta;
J. D. Salinger escutou da editora
Não-sei-o-quê: Holden é doido,
some daqui com esse fedelho.
Ao conseguir ser lançado
Jerry viu que Holden
era mesmo doido
então subiu numa colina
em New Hampshire
e nunca mais apareceu;
Bukowski teve mais recusas
que todos os citados acima
no final, conseguiu ser ouvido
e morreu em paz
com leucemia e sem álcool
sem precisar mais de gritos
e brigas em becos e botecos;
Jack Kerouac foi tão rejeitado
que se refugiou
no deserto do México
e não sabia se chorava
ou escrevia cartas
para os poucos amigos
que o escutavam,
depois conseguiu ser editado
e bebeu até ficar louco
e morrer de cirrose e solidão;
bem, não quero morrer
numa fila à espera de um fígado,
muito menos
ir às portas de Valhalla
voltar, ser editado e dragado
pela sarjeta,
também estou muito longe
de uma colina em New Hampshire
e não quero morrer de leucemia
sem precisar mais de gritos
e brigas em becos e botecos
e nem muito menos
quero morrer de cirrose e solidão;
mas no tempo em que eu era novo
sempre sonhei fazer uma poesia
que fosse adorada por poucos
e ignorada pelo resto do mundo;
nada mudou: ainda escrevo
e ainda sonho o mesmo sonho.