Abandonado no campo de centeio
Li seus livros,
li suas biografias,
vi seu documentário.
Você foi meu avô
assim que os velhos
abandonaram o cargo,
foi meu único amigo
logo que deixaram
de me escutar,
foi meu irmão
e me deu a mão
no campo de centeio
e lá me deixou
e saiu sem olhar
para trás.
Traumas de guerra são incuráveis,
mas o tempo cuida do convívio.
O coração partido, como pulsa?
A guerra pode devastar sua alma
mas só uma mulher,
só o martelo ali escondido
sob o mistério da paixão,
pode partir um coração,
não é Sal?
És a prova em carne viva
de que o tempo nada cura
e, se há placebo como alívio,
nunca houve amor.
Passei dias e dias
a pensar como você
continuou neste mundo
depois da queda:
herói de guerra
que precisou se esconder
para chorar.
Sim Sal: eu quis sentir sua dor.
Precisaria ser você.
Então olhei no espelho
e, como você, descobri
que não valia a pena ser Holden
e não fazia sentido ser Jerry.
Já adentrara o inferno
em ser eu mesmo.
Agora é tarde
e não sinto falta de nada,
no duro,
e por mais que eu conte tudo
a todo mundo
não sentirei saudade
de ninguém, Sal,
nem mesmo de você.