Onde estão os paraísos?
Para Ary e Rozane, eternos em nossos paraísos pretéritos.
Numa hora um tanto adiantada,
pois o sol ainda alto brilhava,
vocês subiram a escada -
a última e obrigatória -
a que leva ao céu ou ao nada.
Onde estão os paraísos?
Assim que vocês dois partiram
para a derradeira subida,
a trilha sonora da vida
ficou insuportavelmente distorcida.
Suas músicas preferidas
tornaram-se lamentos
de saudade, luto, despedida.
Onde estão os paraísos?
O tempo
- até então um zepelim
[voando pro futuro -
ficou atordoado,
e se transformou em pedras,
rolando em direção ao passado.
Onde estão os paraísos?
A morte é um jeito muito duro
de aprender o valor do agora,
De cada passo em nossas trajetórias.
Promessas de paraísos futuros,
Além de falsas e ilusórias,
turvam o presente e nossas memórias.
Onde estão os paraísos?
Um dia, de repente,
[a constatação:
cinco anos se passaram.
Vocês jamais passarão.
Nossos paraísos moram
[nas lembranças,
onde vocês sempre estarão.
O (tempo) passado responde,
em parte, à insistente questão.
Onde estão os paraísos?
Revisito suas pegadas
Nas minhas memórias
e nas lembranças compartilhadas
por outros que cruzaram
[suas jornadas;
e, ainda, na nuvem digital
[acessada,
na qual pairam suas marcas
[virtuais eternizadas:
paraísos passados que vencem o nada.