À sombra dos olhos mortais (I)
Tórrida tempestade de ventos uivantes,
De gotas lancinantes que pareciam uma só,
Cortavam o espaço silencioso,
Imprimindo-lhe um som único e desconfortável.
O chão sorvia o líquido que derramava-se,
Tramando um balé de cristais líquidos soltos no ar;
Suspensos pelo céu escurecido por pesadas nuvens,
Negras nuvens intempestivas...
Tortos raios iluminavam o espaço,
Rachando-lhe em pedaços numa fração de segundos...
Parecia uma eternidade...
Quando o chão tremia ao som do trovão,
Tilintavam os cristais ameaçando partirem-se
Em mil cacos sonoros...
Um estampido seco irrompe a madrugada!
Um único e solitário som grava sua voz na noite.
Por um instante percebe-se que o silêncio reina
Pleno e absoluto...
Simultaneamente um eco seco e abafado
Anuncia a queda de um corpo inerte...
Do seu peito corre um risco rubro, delgado...
Molha seu rosto a chuva,
Lava-lhe a alma...Escorre-lhe o sangue.