Um bom poema

Talvez,

talvez uma boa dose de nada

nada que talvez não estivesse ao alcance

de qualquer um sentado numa praça ou boteco,

como eu

com a cabeça perdida

além da minha noção,

além da minha indignação,

além até da minha rua jamais vista em sonho;

talvez a vitória muito negada, mas conhecida

em outros olhos;

talvez a dor e sua fúria ante a fealdade

da beleza

talvez o encanto sufocante do suicídio

ou o próprio suicídio materializado

(saído das entranhas rumo ao gatilho,

ao laço da corda, à linha do trem

ou à dose de veneno);

talvez o beijo doce e tácito às bocas

doces e tácitas, deletérias e indeléveis;

talvez seu amor, o amor,

que tanto conheci, depreciei

e fui enjeitado;

talvez nossos abraços dados

ao vento sem talento e o lento arrastar

de nossos pés neste deserto sem sombras;

talvez todos os nossos “talvezes”

antes de ir embora sem deixar dinheiro

para café e pão.

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 07/10/2019
Reeditado em 07/10/2019
Código do texto: T6763387
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