Um bom poema
Talvez,
talvez uma boa dose de nada
nada que talvez não estivesse ao alcance
de qualquer um sentado numa praça ou boteco,
como eu
com a cabeça perdida
além da minha noção,
além da minha indignação,
além até da minha rua jamais vista em sonho;
talvez a vitória muito negada, mas conhecida
em outros olhos;
talvez a dor e sua fúria ante a fealdade
da beleza
talvez o encanto sufocante do suicídio
ou o próprio suicídio materializado
(saído das entranhas rumo ao gatilho,
ao laço da corda, à linha do trem
ou à dose de veneno);
talvez o beijo doce e tácito às bocas
doces e tácitas, deletérias e indeléveis;
talvez seu amor, o amor,
que tanto conheci, depreciei
e fui enjeitado;
talvez nossos abraços dados
ao vento sem talento e o lento arrastar
de nossos pés neste deserto sem sombras;
talvez todos os nossos “talvezes”
antes de ir embora sem deixar dinheiro
para café e pão.