Conta- gotas

Como quem não quer nada

Vou enlouquecendo a conta-gotas

Um dia sim, um dia não

Vou enlouquecendo olhando a lua

Que noite vem, que noite não vem

Mas o trem passa a cada meia hora

E a casa treme a cada meia hora

Como quem não se importa

Vou enlouquecendo bem devagar

Para que ninguém note, nem anote

Anoto no meu diário imaginário

Quantas vezes fui feliz sem saber

E troco a lâmpada do meu escuro

E me reservo para me amanhecer

Como quem não sabe o que faz

Vou enlouquecendo naturalmente

Olho os peixes no aquário sujo

Varro a rua, limpo os pratos, choro

Na mais calma das aflições, berro

Como quem vai enlouquecendo

Sem se dar conta que está louco

Ligo a televisão e durmo sentado.

Milton Oliveira

04set/2019

milton antonios
Enviado por milton antonios em 04/10/2019
Código do texto: T6761023
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