Conchas, águas sujas e adágios
Cheguei à idade em que as dúvidas capotam,
por que minhas forças não são as mesmas
de ontem.
Idade em que tudo que julgava dominar e saber
se contraiu tanto que cabe numa casca de ervilha.
Devo me sentir feliz: deixei toneladas
pelo caminho.
Perdi tempo com julgamentos vãos.
O silêncio, que me assombrou por séculos,
sugou toda vida em meus sonhos
e logo que entardeceu vi a restinga de fogo
arder no longínquo horizonte.
Era minha vida.
Oh santos destituídos de santidade,
destronados de seus altares,
desçam e me encontrem aqui sentado
ou a catar conchas na praia de onde
nunca tirei os pés,
pois sei de onde vim, mas creio que nunca
chegarei aonde meu coração
prometeu me levar –
nisso gastei uma vida.