O dom de viver.

Rio, 02.10.2019.

O dom de viver.

O dom de viver

É não fazer plano.

A vida é osso,

Mas se souber roer

Tem tutano.

O bem tem reembolso,

O mal também.

O último te encarcera

Num calabouço

E o primeiro te

Leva além.

Sonhar é auspicioso,

Mas ser prático

Não faz mal.

Um dia depois do outro,

Pra quem saber ver

Até o banal é especial.

Luz e trevas coabitam

Dentro do coração de cada ser.

Iluminar ou escurecer,

Só depende de você.

Se reinventar é preciso,

Navegar nem preciso dizer,

O rio é contínuo e caudaloso,

Pra onde você vai...

Só a correnteza é

Que pode prever.

As vezes você rema

Rema e não sai do lugar,

As vezes você entra num

Barco a motor que acelera

Até parecer que

Não vai mais parar.

Tempestades tem aos montes,

Céu azul também não falta,

Tem hora que o mundo parece

Querer te tirar do sério,

Vira e mexe tudo se acalma.

Da ausência de gravidade

Ao empuxo, o fluxo te

Faz respirar ar puro e

Ao mesmo tempo te afoga.

Vai parecer sem sentido

Se você ficar caçando

Alguma lógica.

O dom de viver

É não fazer plano.

A vida é osso,

Mas se souber roer

Tem tutano.

Clayton Márcio