SULFÚRICO
Estou debaixo da noite ventilada
e sopro muito depois da tragada
uma nuvem espessa de fumaça
que sobe ao gelo desta madrugada.
Sinto o âmbar derramado do poste
— e mal ilumina as almas que correm
entre o amarelo da farinha e os cobres
do despacho à terra dos que morrem.
Meço a distância da varanda ao espaço.
Ouço versos e noto o carro que passa
e exala o cheiro da gasolina queimada
que pinga do monóxido e cai na calçada.
Sobra neste agora veloz uma chuva fina
que espalha a parafina fria da esquina
no meio da lágrima espelhada na avenida
refletindo no asfalto o que vem lá de cima.
E na compressão das horas, eu ainda insisto
no vitríolo de um poema que devore o infinito.