PRECIOSIDADES (180)

P O E S I A V E R D E

A poesia verde pode ser verde, pode ser azul, pode ser

branca, pode ser amarela. Cada qual escolha a sua.

Versos brilham no manto aquarela.

A poesia verde pode ser amarga, pode ser doce, pode

azeda. Cada qual escolha a sua. O paladar é uma vereda.

A poesia verde pode ser quente, pode ser morna, pode

se fria. Cada qual escolha a sua. Não há pecado. É poesia.

A poesia verde pode ser redonda, pode ser quadrada,

pode ser retangular. Cada qual escolha a sua. De toda

a forma irá se formar.

A poesia verde pode estar na horizontal, pode estar na

vertical, pode estar inclinada. Cada qual escolha a sua.

Toda linha é alinhada.

A poesia verde pode ser fosca, pode ser opaca, pode ser

brilhante. Cada qual escolha a sua. Todo o verso é

cintilante.

A poesia verde pode ser crua, pode ser mal passada,

pode ser cozida. Cada qual escolha a sua. Toda ela é

bem servida.

A poesia verde pode ser alta, pode ser baixa, pode ser

rasteira. Cada qual escolha a sua. Tamanho aqui é

brincadeira.

A poesia verde pode ser matutina, pode ser vespertina,

pode ser crepuscular. Cada qual escolha a sua. E até

com ela pernoitar.

A poesia verde pode ser tenor, pode ser barítono, pode

ser soprano. Cada qual escolhe a sua. Há um maestro

além do piano.

A poesia verde pode ser do ontem, pode ser do hoje,

pode ser do amanhã. Cada qual escolha a sua. Atrás

dela. Com afã !

A poesia verde pode ser de números, pode ser de letras,

pode ser de sinais. Cada qual escolha a sua. Não se

apagará jamais.

A poesia verde pode estar na vigília, poder estar na sesta,

pode estar no sono. Cada qual escolha a sua. O verso, no

sono, é abono.

O poema verde pode ser do outono, pode ser do inverno,

pode ser da primavera. Pode ser de qualquer estação.

Cada qual escolha a sua. É o ciclo. Verão !

A poesia verde pode estar na uva, pode estar no vinho,

pode estar na taça. Cada qual escolha a sua. Seja ela

uma "cachaça".

A poesia verde pode estar no rico, pode estar no pobre,

pode estar no miserável. Cada qual é escolha sua.

É fortuna inestimável.

A poesia verde pode ser urbana, pode ser rural, pode ser

do sertão. Cada qual escolha a sua. Da origem, o seu

quinhão.

A poesia verde pode estar na terra, pode estar na água,

pode estar no fogo, pode estar no ar. Cada qual escolha

a sua. Salvar é elementar.

A poesia verde pode ser dita, pode ser lida, pode ser

escrita. Cada qual escolha a sua. Se cantada, mais

bonita.

A poesia verde pode ser lenta, pode ser veloz, pode estar

parada. Cada qual escolha a sua. Faz do verso a sua

estrada.

A poesia verde pode estar em História, pode estar em

Filosofia, pode estar na Política. Cada qual escolha a

sua. Toda ela seja crítica.

A poesia verde pode estar no shopping, pode estar na

rua, pode estar na favela. Cada qual escolha a sua. Até

no brejo se revela.

A poesia verde pode ser criança, pode ser jovem, pode

ser adulta. Um ancião ! Cada qual escolha a sua.

Enquanto pulsa, "pulsa-ação !".

A poesia verde pode ser dos católicos, pode ser dos

evangélicos, pode ser dos ateus. Cada qual escolha a

sua. Somos todos filhos SEUS.

A poesia verde pode ser do Sul, pode ser do Leste, pode

ser do Oeste. Cada qual escolha a sua. Não faltará Norte

praquele que nela investe.

A poesia verde pode ser da raiz, pode ser do tronco, pode

ser das folhas, pode ser do fruto. Cada qual escolha a

sua. Brota nela o atributo.

A poesia verde pode ser da terra, pode ser do sol, pode ser

das estrelas, pode ser da lua. Cada qual escolha a sua. No

todo, tudo flutua.

A poesia verde pode estar nos segundos, pode estar nos

minutos, pode estar nas horas. Cada qual escolha a sua.

Vai o tempo, tempo-verso, sem demoras.

A poesia verde pode ser dos lagos, pode ser dos rios, pode

ser dos oceanos. Cada qual escolha a sua. Versos

vertentes mudam planos !

A poesia verde pode ser chuvosa, pode ser ensolarada,

pode ter neblina, pode ser geada. Cada qual escolha a sua.

Da tempestade, bonança esperada.

A poesia verde pode estar na farinha, pode estar no sal,

pode estar no fermento. Cada qual escolha a sua. É pão

para o sustento.

A poesia verde pode estar na "Classe A", pode estar na

"Classe B", pode estar na "Classe C". Cada qual escolha a

sua. Nesse alfabeto seremos todos "Z".

A poesia verde pode ser do Executivo, pode se do

Legislativo, pode ser do Judiciário. Cada qual escolha a

sua. Preservemos o erário.

A poesia pode estar no esquadro, pode estar no nível,

pode estar no prumo. Cada qual escolha a sua. Cada

verso tem seu rumo.

A poesia verde pode estar no aluno, pode estar no

professor, pode estar no diretor. Cada qual escolha a

sua. Nesse ofício não há doutor.

A poesia verde pode estar no Paraná, pode estar em Santa

Catarina, pode estar no Rio Grande do Sul. Cada qual

escolha a sua. Sob este manto-verso azul.

A poesia verde pode estar na tristeza, pode estar na

alegria, pode estar na melancolia. Cada qual escolha a

sua. No reverso do verso, o fardo alivia.

A poesia verde pode estar no tronco, pode estar nos

membros, pode estar na cabeça. Cada qual escolha a sua.

Alongue-se. Antes que tudo pereça.

A poesia verde pode estar no filho, pode estar no avô,

pode estar no neto. Cada qual escolha a sua. O gene-verso

é traço concreto.

A poesia verde pode estar no sangue, pode estar nas

lágrimas, pode estar no suor. Cada qual escolha a sua.

Prazer sem dor, é melhor.

A poesia verde pode estar no xote, pode estar na valsa,

pode estar no vanerão. Cada qual escolha a sua. O

sarandeio é arte no salão.

A poesia verde pode estar no mate doce, pode estar no

tererê, pode estar no chimarrão. Cada qual escolha a

sua. É amizade, de mão em mão.

A poesia verde pode estar no sábado, pode estar no

domingo, pode estar no feriado. Cada qual escolha a

sua. Dia de trabalho, o verso é dobrado.

A poesia verde pode ser oxítona ou paroxítona.

Proparoxítona também. Cada qual escolha a sua. Na

palavra a tonicidade convém.

A poesia verde pode estar no quarto, pode estar na

cozinha, pode estar na sala. Cada qual escolha a sua.

Abra as janelas que o vento embala.

A poesia verde pode estar em março, pode estar em

agosto, pode estar em fevereiro. Cada qual escolha a

sua. Melhor de janeiro a janeiro.

A poesia verde pode estar no bronze, pode estar na prata,

pode estar no ouro. Cada qual escolha a sua. Além do

pódio há um tesouro.

A poesia verde pode estar no arco, pode estar na flecha,

pode estar no arqueiro. Cada qual escolha a sua. Todo o

verso é alvo certeiro.

A poesia verde pode estar na cuia, pode estar na bomba,

pode estar na erva-mate. Cada qual escolha a sua. Um

dedo de prosa faz o arremate.

A poesia verde pode estar na semente, pode estar no

broto, pode estar na flor. Cada qual escolhe a sua. Da

terra nascem versos de amor.

A poesia verde pode abrir portas, pode abrir janelas, pode

indicar caminhos. Cada qual escolhe a sua. Mas toda a

roseira tem espinhos.

A poesia verde pode estar no início, pode estar no meio,

pode estar no fim. Cada qual escolha a sua. Vida e verso

são assim.

A poesia verde pode estar no favo, pode estar na abelha,

pode estar no mel. Cada qual escolha a sua. A rainha

tece versos em cordel.

A poesia verde pode estar na isca, pode estar na linha,

pode estar no anzol. No pescador há de estar. Cada qual

escolha a sua. O verso ensina a pescar.

A poesia verde pode estar na tinta, pode estar no pincel,

pode estar no pintor. Cada qual escolha a sua. Sobre a

tela, arte, dom criador.

A poesia verde pode ser boa, pode ser mediana, pode ser

ruim. Cada qual escolha a sua. Serão ótimas, até o fim.

A poesia verde pode ser branca, pode ser mulata, pode

ser cafuza, mestiça de toda sorte. Não há escolha. Tudo

se iguala na morte.

A poesia verde, sempre verde, que seja verde. Verde

esperança, verde terra, verde mar, verde o olhar. Verde

abastança. Fartura. Vida de outrora, vida de agora,

vida futura.

Enquanto verde, a fruta não cai, e logo se vai, depois

de madura.