Dor
no ranger dos dentes de têmporas rijas
no queimar dos olhos de pálpebras secas
no arder dos lábios de silêncios turvos
carrego em mim uma ferida aberta.
nas gangorras da vida, altos e baixos:
serpenteio por entre curvas bruscas
colido com pedras no caminho escuro
e escrevo como quem busca respostas.
entre o céu e o mar, um horizonte tênue
onde sensações diáfanas se misturam –
a verdade é que não entendo nada:
vou, caleidoscópico, entre luzes cegas.
grito a verdade do meu peito duro
e recebo de volta senão o eco mudo
de um disforme desamparo
do qual padeço, mas nunca morro.
ora espanto, ora acalanto,
já não sei se renasço ou sucumbo
da dor de parir a poesia do mundo
cujo sal mora no meu pranto.