Ao som de Elis Regina

Não soube entender teus sinais,

nem a energia que atravessava meu corpo

quando me olhavas.

Tive medo.

Exatamente na mesma medida

de quando vi o mar pela primeira vez:

eras fascinante e me assustavas.

No ritmo estressante da vida paulista

fui incapaz de um intervalo para a ternura.

Voltei infinitas vezes àquela noite em minhas memórias,

tentando, em vão, retocar minhas palavras,

demonstrar o quanto te desejava,

o quanto queria te tocar os cabelos,

deitar-me em teu colo,

perder-me em teus braços.

Já se vão quase vinte anos...

São os instantes de descompasso, querida minha.

Perdoa-me.

Como relógio desregulado,

estava eu atrasado em seguir meus afetos,

adiantado demais em obedecer à razão.

Errei a hora,

a forma,

tudo.

Ali te deixei e te perdi,

numa sombra fresca e perfumosa

na beira da estrada de minha vida.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 21/09/2019
Reeditado em 03/10/2019
Código do texto: T6750698
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