Ao som de Elis Regina
Não soube entender teus sinais,
nem a energia que atravessava meu corpo
quando me olhavas.
Tive medo.
Exatamente na mesma medida
de quando vi o mar pela primeira vez:
eras fascinante e me assustavas.
No ritmo estressante da vida paulista
fui incapaz de um intervalo para a ternura.
Voltei infinitas vezes àquela noite em minhas memórias,
tentando, em vão, retocar minhas palavras,
demonstrar o quanto te desejava,
o quanto queria te tocar os cabelos,
deitar-me em teu colo,
perder-me em teus braços.
Já se vão quase vinte anos...
São os instantes de descompasso, querida minha.
Perdoa-me.
Como relógio desregulado,
estava eu atrasado em seguir meus afetos,
adiantado demais em obedecer à razão.
Errei a hora,
a forma,
tudo.
Ali te deixei e te perdi,
numa sombra fresca e perfumosa
na beira da estrada de minha vida.