AMOR DE MATAR
Quero beijar as nuvens da tua boca
Te absorver em goles numa tarde dourada
Me embriagar no veludo de tua saliva
Sentir teu hálito quente
Te absolver no meu ser
Tua língua efervescente
Falando idiomas indecentes
Sentir que me falta teu ar
E que continuamente nua me fazes incandescente
Tua pose no espelho do teto
Me deixa louco qual Narciso
Morrendo afogado na tua pele encharcada de lodo
Me atiro em ti como ave rapineira na água
Em busca das entranhas aracnídeas de teus peixes...
Quero ser rutilante na tua pele negra
Surfar no teu colo doce
Me entrincheirar nos teus umbigos abrigos
Me empoleirar no teus ventre cavernoso
Musgo de todas as delícias de ambrosias
Tuas carícias frementes
Teu colo arenoso arrepiante
Os frutos proibidos
Teus mistérios gozosos
Me roçar nos híbridos mapas de tua pele
Como quero me afogar na tua sede
Me embalar nos braços de tua rede
Me emaranhar nos teus cabelos
Feito lã e novelo
Me perder em ti
Até esquecer de minha existência
Até nos fundirmos em corpo e alma
Numa eloquência demente
Que perdeu o juízo final
O guizo ancestral do grito preso
Até morrermos num só ser
E quando o dia amanhecer
Como um coito leve e solto
Sequer saberemos que
Morremos abraçados um no outro...