Ah diáfano fogo que me cobre,
e atordoa e revira e me desloca
sobre a terra selvagem onde o amor se instalou !
Que luxúria tão densa te move
a arrastar a língua mordaz
às margens do meu coração,
como quem ateia lava ao cimo das sedas !
Hora por hora, dia após dia,
és tu que acrescentas a desordem
e envenenas as nascentes das palavras
Pois não é por ser violenta
ou ter a pele encharcada de sol,
como uma brasa fechada nos sítios da carne,
mas por não aguentar
o ardor que corre de ponta a ponta
e o mel que ao fundo do sangue escurece,
é que esse animal se lança !,
é que essa veia se despe !,
é que essa mão se escreve !