IRMÃZINHA MORFINA

Nas muitas moradas que tive fiz incontáveis contatos

Relações despidas de sentido e outras totalmente imbuídas dele

Mas o que ficou?

Qual raiz ainda perfura a terra?

Poucas, quase nenhuma...

Nos estados mais variados fiquei

Percorri toda a escala de cinzas

E em cada tonalidade só sobrou um soluço abafado, um silêncio ensurdecedor

Um eco de algo futuro, sem definição

Amorfo por natureza e frio

Nele me apeguei e aí viajamos por eras

Como num soluço prolongado da razão

Como um irmão não-nascido

Como um elefante no meio da sala

Como a gênese de algo maior

Que traz o alívio definitivo, a anestesia irrestrita e eterna

A prima da morte e cunhada do Destino

A mãe de todos os analgésicos

A mão segura que me guiou pelo labirinto gélido e escuro dos dias de agosto

Minha cálida, segura e suave parceira

Minha pequena e mais nova companheira de jornada

Minha irmãzinha Morfina.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 09/09/2019
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