IRMÃZINHA MORFINA
Nas muitas moradas que tive fiz incontáveis contatos
Relações despidas de sentido e outras totalmente imbuídas dele
Mas o que ficou?
Qual raiz ainda perfura a terra?
Poucas, quase nenhuma...
Nos estados mais variados fiquei
Percorri toda a escala de cinzas
E em cada tonalidade só sobrou um soluço abafado, um silêncio ensurdecedor
Um eco de algo futuro, sem definição
Amorfo por natureza e frio
Nele me apeguei e aí viajamos por eras
Como num soluço prolongado da razão
Como um irmão não-nascido
Como um elefante no meio da sala
Como a gênese de algo maior
Que traz o alívio definitivo, a anestesia irrestrita e eterna
A prima da morte e cunhada do Destino
A mãe de todos os analgésicos
A mão segura que me guiou pelo labirinto gélido e escuro dos dias de agosto
Minha cálida, segura e suave parceira
Minha pequena e mais nova companheira de jornada
Minha irmãzinha Morfina.