Desabafo De um Depressivo Cansado

Eu queria escrever sobre a vida e suas belezas

Sobre como é bom respirar e inspirar pessoas

Em meu íntimo desejo ser o que vocês esperam

Um amigo fiel, amante confiável de pés no chão

Mas minha cabeça pousa nas nuvens altas

Com pernas de pau e chapéu de papel eu os vejo

Há desapontamento nos olhos de cada um

Eu sei disso. Finjo que não sei, como poeta figidor

"Chega a fingir ser dor a dor que deveras sente"

Já anunciavam isso antes de eu nascer

Eu sou apenas uma estrela nessa galáxia infinita

Um ponto no dicionário que ninguém percebe

E minhas palavras podem ecoar e tocar o seu coração

Mas e daí?

No fim, tampouco isso vai importar

Amanhã nascerá outro como eu

Assim como já existem outros como eu

Desapontamos todos vocês com palavras harmoniosas

Como uma cobra que mesmeriza sua vítima

Vocês foram enganados

Eu sou uma fraude anunciada

Desde antes de meu nascimento indesejável

Ou antes das agressões familiares

Ou antes da violência na escola

Dos socos no estômago e rosto

Dos palavrões e xingamentos

Se reclamar é vitimismo, ou apenas dramatização

Não invoco musas para inspirar palavras

Invoco o ódio que tenho em minhas lembranças

A melancolia vem de brinde com a insanidade

Foda-se se é setembro amarelo, ou verde

Nos stories do instagram sua vaidade é louvada

Pra ganhar "palminhas" dos que querem afagos

Enquanto no canto obscuro do mundo

Mais um se enforcou por não suportar ser mais um

Eu juro que tento ver o lado bom da vida

Sorrir para todos e cantar em couros de aleluia

Mas é um peso tão grande fingir ser alguém

Sabendo que no fundo eu não sou ninguém

Jogam glórias em nossos pés se abraçamos o luxo

E eu nunca quis nada disso em minha vida

Eu queria apenas saborear os gostos adocicados

Sem lembrar que minha língua fora cortada fora

Eu queria desaparecer

Eu queria desaparece

Eu queria desaparec

Eu queria desapare

Eu queria desapar

Eu queria desapa

Eu queria desap

Eu queria desa

Eu queria des

Eu queria de

Eu queria d

Eu queria

Eu queri

Eu quer

Eu que

Eu qu

Eu q

Eu

E

(Guilherme Henrique)