Vida

Gosto do céu depois da chuva.

Das árvores molhadas

do cheiro de renovo que brota do chão.

Por estes e outros motivos, sempre prefiro os dias nublados.

Sou estranhamente entretida pelas jornadas das viagens

E sempre me desanima o ponto de partida ou de chegada.

Adoro visitas não marcadas,

Surpresas sem datas.

O riso sem motivo.

O beijo sem pressa.

O caminho não trilhado.

O choro disfarçado,

Incontido pelo decoro.

Também me encantam os exagerados,

Os românticos por demasia,

Os poetas...

Gosto de gente insolente,

Daquelas pessoas que armam barraco,

Que descem do salto,

Que sentem raiva, tristeza, amor...

E todos estas indecências

Reprimidas dentro da alma humana.

Gosto de gente simples,

De filosofia de boteco...

Das tias da roça que sentiam o cheiro da chuva,

Sob um céu limpo e um calor de 30 graus.

Que corriam logo,apressadas, para recolher as roupas do varal.

Me distraio ao ouvir os idosos e todas as experiências dos velhos tempos,

Estes idosos que sempre fazem questão de lembrar,

O quão melhores eram os famigerados "velhos tempos"...

O que eu não gosto é de tudo o que morno

incompleto,

mais ou menos,

Me dá repulsa a falta de clareza,

a dúvida do que está nas entrelinhas

A falta do sentir e de sentido.

Me desespera o talvez,

O quase,

O que é sentido e não é dito.

E todas as derivações do que é transvestido do real.

Prefiro a morte ao Vazio,

Pois embora a primeira seja um fim irremediável do que outrora era vivo... pulsante...

Não há nada mais triste que estar morto pra si enquanto vive.

Karoline Correia
Enviado por Karoline Correia em 06/09/2019
Reeditado em 29/06/2021
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