BALA PERDIDA
Repicam clarões no céu, véu de fumaça se espalha,
alguns furos no muro.
Nem se abala, se a bala cruzou sua sala e entrou na janela da vizinha.
Não tem nada a ver com a rinha, é briga de quem consome a farinha.
Quem embarca no trem, sabe pra onde vai, à frente o que vem.
Ouve o desespero de gritos, socorrem outros aflitos, há dor no coração.
Pé ante pé se aproxima, a tristeza sobe morro acima, um corpo no chão
Da boca palavras de compaixão escapam comuns, não é o filho dela.
Se alguém perguntar, diz que não viu, dormia, nenhum ruído ouviu.
Estava lá embaixo a passeio, nem soube que houve tiroteio.
O cachorro late lá fora, filho mais novo chora, medo devagar surgindo
Um dos outros não chega da escola, marido foi jogar bola,
dia ficando escuro.
Se tiverem sorte e voltarem com vida, a mesa estará posta,
comida servida.
Fechará de imediato a porta da sala, cuidadosa a alguma bala perdida.