BALA PERDIDA

Repicam clarões no céu, véu de fumaça se espalha,

alguns furos no muro.

Nem se abala, se a bala cruzou sua sala e entrou na janela da vizinha.

Não tem nada a ver com a rinha, é briga de quem consome a farinha.

Quem embarca no trem, sabe pra onde vai, à frente o que vem.

Ouve o desespero de gritos, socorrem outros aflitos, há dor no coração.

Pé ante pé se aproxima, a tristeza sobe morro acima, um corpo no chão

Da boca palavras de compaixão escapam comuns, não é o filho dela.

Se alguém perguntar, diz que não viu, dormia, nenhum ruído ouviu.

Estava lá embaixo a passeio, nem soube que houve tiroteio.

O cachorro late lá fora, filho mais novo chora, medo devagar surgindo

Um dos outros não chega da escola, marido foi jogar bola,

dia ficando escuro.

Se tiverem sorte e voltarem com vida, a mesa estará posta,

comida servida.

Fechará de imediato a porta da sala, cuidadosa a alguma bala perdida.

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 05/09/2019
Código do texto: T6738249
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