pés no chão
queria uma mulher com os pés no chão
mas ela queria todo céu só pra ela,
enxergaria decência no garoto de antes
a ingenuidade é tão bela,
enxugaria lágrimas do homem de hoje
genuína idade, malícia estampada na tela,
mentiria se adiantasse alguma coisa
mas a mentira adia o inevitável,
ser forte ou ser feliz?
choram os puros de coração,
ter sorte, alguém me diz
quão longe chega uma oração?
batem no teto e voltam
como a fumaça que embaça meu quarto,
batem na tecla e votam
desacreditados na mudança de cenário,
precisamos de água e comida
o resto é só abundância,
quem do amor mais precisa
quando não mais criança?
pena da dor que faz morada em mim,
mande-a procurar um doutor ...
e por favor, deixe-me assim,
pouca rima, vários questionamentos
porca vida, viver de lamentos,
pratos sujos numa cozinha escura,
escuto o mundo, uma, duas ... até o silêncio
onde ouço murmúrios, pegue esse lenço,
um líquido enxugador de prantos
liquidificador de sentimentos,
o barulho que faz essa lata ao abrir
minha forca,
te ver despreguiçando pela manhã
me conforta,
desenhos animados nos assistem
enjoam rápido de nós, somos repetitivos,
a gente age como se entendesse, tipo cachorro
eu e meu outro eu, cachoeiras e uma sativa,
bebendo em postos e molhando o rosto,
quem dera a água limpasse as vistas,
nascemos cegos e morremos do mesmo jeito
pregamos pregos cravados no fundo do peito,
e quanto mais fundo maior a ilusão de bem estar,
conto meus vultos, quantos estão a me acompanhar?