Terra mágica
Nos incontáveis dias
De nossa eterna e curta vida
O frescor das flores maceradas
A despertar as manhãs
Nas ruas adormecidas
Nessa terra mágica
Cercada por abismos e espelhos
O doce e viscoso sabor
Do sangue misturado à lama
A poeira carregava os pés
De volta à longa casa
Origem e fim do mundo
Resplandecente, inóspita
Num desespero desvairado
Por percorrer suas pedras
Perder-se na amálgama de suas paredes
Transformar-se em sua história
De um homem só
Reiterado infinitamente
Como palavras soltas
De um texto conhecido
De mulheres incertas
Algumas mães, outras bruxas
Todas santas e fortes
Bordando na pele a vida
Vislumbre espectral
Da perfeição existente
Num canto do mundo
Onde nada sobressalta
Nem fantasia nem realidade
Chuva de pétalas coloridas
Cobrindo fontes, corpos e telhados
Espíritos vivos e seus fantasmas
Povoando ruínas de ninguém
Subversão e remanso
Ciclicamente revividos
Beijos doídos, prantos ardentes
O asco, o terror
O gozo e o amor
O fio dourado
Que leva ao amanhã
Encontra a outra ponta
Reconduzindo o futuro ao passado
Presos entre os quartos da memória
No corredor onde tantas vozes
E caminhos se cruzaram
Neste lugar
Congelado entre o concreto e o contado
O meio termo entre maduros devaneios
E certezas infantis
Para onde partir
E de lá nunca mais sair