Vergonha e Orgulho

Em um dia claro como hoje

Vergonha sentou-se à mesa

Mal continha as lágrimas

E Dor foi consolá-la

Ignorando a contradição

Calma ficou a observar

Tricotando as vestes do Tempo

E Amargura, entre dentes amarelos

Puxava um fiapo da mesa

Que Vida há pouco tinha posto

Tempo quis saber por onde andara Vergonha

Em seus descaminhos, estava perdida?

Aos prantos, ela apenas murmurou:

“Pela humanidade, sou incompreendida!”

E continuou: “quem me devia possuir

Por tudo ter e nada faltar

É quem me esquece abandonada

Trocada por Ganância e Orgulho

Os mais puros, de corações humildes

Colocam-me à frente de tudo

Mas não sei o que ali fazer,

Humildade e Vergonha são péssimos vizinhos”

Vida que a tudo escutava

Cabisbaixa ficou

Ao parir Vergonha e Orgulho

Gêmeos de nascença

Pensou serem unidos

Mas a tristeza é que não podem conviver

Orgulho tornou-se maior, robusto

Ao entrar num ambiente

Não admite menos que toda a atenção

Vergonha permaneceu mirrada

Sempre pelos cantos

Com medo de sua própria sombra

Andava sempre com Medo

Foi assim que os dois irmãos não se reconheciam mais

Orgulho foi morar com os homens

Foi por eles exaltado

Ganhou destaque no governo

Sua irmã ainda padece

Buscando frestas onde aparecer

A humanidade ainda a desconhece

Talvez quando Orgulho não mais existir

Rafaela Alonso
Enviado por Rafaela Alonso em 02/09/2019
Código do texto: T6735793
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