Vergonha e Orgulho
Em um dia claro como hoje
Vergonha sentou-se à mesa
Mal continha as lágrimas
E Dor foi consolá-la
Ignorando a contradição
Calma ficou a observar
Tricotando as vestes do Tempo
E Amargura, entre dentes amarelos
Puxava um fiapo da mesa
Que Vida há pouco tinha posto
Tempo quis saber por onde andara Vergonha
Em seus descaminhos, estava perdida?
Aos prantos, ela apenas murmurou:
“Pela humanidade, sou incompreendida!”
E continuou: “quem me devia possuir
Por tudo ter e nada faltar
É quem me esquece abandonada
Trocada por Ganância e Orgulho
Os mais puros, de corações humildes
Colocam-me à frente de tudo
Mas não sei o que ali fazer,
Humildade e Vergonha são péssimos vizinhos”
Vida que a tudo escutava
Cabisbaixa ficou
Ao parir Vergonha e Orgulho
Gêmeos de nascença
Pensou serem unidos
Mas a tristeza é que não podem conviver
Orgulho tornou-se maior, robusto
Ao entrar num ambiente
Não admite menos que toda a atenção
Vergonha permaneceu mirrada
Sempre pelos cantos
Com medo de sua própria sombra
Andava sempre com Medo
Foi assim que os dois irmãos não se reconheciam mais
Orgulho foi morar com os homens
Foi por eles exaltado
Ganhou destaque no governo
Sua irmã ainda padece
Buscando frestas onde aparecer
A humanidade ainda a desconhece
Talvez quando Orgulho não mais existir