NADA MAIS
Eu, quem nada sabe e que roubei de mim a capacidade do raciocinio e a lamúria de minhas atitudes
- como pude ver-me tão vulnerável em meio às desilusões de meus dias e de minhas noites perturbas pelos pensamentos vulgares e oprimidos, destilando o antídoto de minha sobreiedade.
A carapuça dos meus sentimentos escondidos.
O amor que, por mim, nunca fora achado e nem dito.
São vazias as linhas dos meus versos.
São arredios os solavancos em minha cadeira, sempre a se queixar de meu peso e de minha consciência atormentada pelos dilemas peregrinos em minha anomalia.
Primata de uma camuflagem, assim como Pessoa. É também o vento rente aos cais nos portos de Lisboa.
Nada mais me traz a felicidade e, lá fora, é sempre a mesma coisa. O tédio nos prédios, as árvores de raízes mortas e cada gente a se esconder atrás de alguma porta a vigiar passos alheios.
Basta-me um simples espelho para me detonar num riso maníaco e grotesco, como um homem que se esqueceu no tempo e não mais se reconhece na lucidez das horas
e, tão pouco, acredita em sua poesia. Tão intensa, vulgar e um tanto vazia.
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©
Giovanni Pelluzzi
São João Del Rei, 06 de agosto de 2019.