Falemos pois das casas - das grandes arquiteturas queimando em silêncio.
Casas tocando outras casas, imaginando-as às doçuras das estações, tantos alumbramentos, homens, mulheres, jovens, idosos/crianças na sua infância de alargar o tempo.
 
Falemos das casas e suas estrelas fulgurantes, a fartura de volúpia, a beleza do ventre, seus templos de sedução, suas usinas irreversíveis de graciosidade, amor e fogo. Tantas paisagens graves, por onde a loucura pulsa e estremece !
 
Falemos dos desgastes das ferrugens, da poeira assentada, das molduras pesadíssimas de ausências. Tudo o que nos rodeia em treva, como um revólver apontado à cabeça. [ Falemos de como dos ossos nasce a solidão antropofágica, coberta de morte, chovendo o próprio sal ! ].
 
Falemos das almas das casas, das casas em movimento, da voz que quer ser ouvida completamente, tomar as decisões em todo o seu pensar, quer os espaços preenchidos.
Porque apesar de todo seu sofrimento e seu esplendor, não quer ser nem se eximir dos humanos, mas que à sua intimidade sintam-na a arder por dentro, em todos os seus incêndios, suas ruínas e seus encantos !

Falemos das casas, do quão forçoso e imprescindível se faz vivê-las, para delas se morrer .




DENISE MATOS
Enviado por DENISE MATOS em 29/08/2019
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