QUEIMAÇÃO

Amazônia era legal, está se tornando virtual,

Pouco a pouco chegando ao fim

Fogo corre pelo chão, Pajé se desespera

Queima em brasa o terreiro do Avá Canoeiro

Cerra os olhos para não ver o fogareiro

Incêndio no rio ameaçava Anhanguera

Sem casa, sem Floresta, sofre o guerreiro

Corrida sem destino de intocadas raças

Busca, em vão, pelas trilhas, não há caças

Amazônia era legal, está se tornando virtual,

Pouco a pouco chegando ao fim

Revoada sem destino, passa o passaredo

Asas e bicos queimados, mortos de medo

Jauaperis, Yanomanis, Arawetés

No Rio Javaés sumiram os Tucunarés

Xô Caburé, amarelinho, andorinhão,

Xô Cardeal, araponga, arara, azulão

SOS Tupã e deuses de todas as fés

Amazônia era legal, está se tornando virtual,

Pouco a pouco chegando ao fim

Tum, tum, tum... acelerados os corações

Será que o Negro desviará do Solimões?

Foi o Boto... Foi o Boto... Sedutor de cunhantãs

A mata perdendo o verde... Vingança dos céus

Anhangá sopra línguas de fogo todas manhãs

Queima igual Sodoma, de qual pecado serão réus

Xô Patativa, xô sanhaçu, choroso canto do Uirapuru

Amazônia era legal, está se tornando virtual,

Pouco a pouco chegando ao fim

Araguaia, Tapajós, Tocantins, Xingu

Rios morrendo, onde viverá Pirarucu,

Sem pássaro no céu, lago sem tracajá

Tristeza no Jawary, silencia o Boi-Bumbá

Não tem mais Caprichoso, adeus Garantido

Veio a queimação, cantar perdeu o sentido

Xô Figuinha, xô flautim, xô pequeno curumim

Amazônia era legal, está se tornando virtual,

Pouco a pouco chegando ao fim

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Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 29/08/2019
Reeditado em 29/08/2019
Código do texto: T6732133
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