QUEIMAÇÃO
Amazônia era legal, está se tornando virtual,
Pouco a pouco chegando ao fim
Fogo corre pelo chão, Pajé se desespera
Queima em brasa o terreiro do Avá Canoeiro
Cerra os olhos para não ver o fogareiro
Incêndio no rio ameaçava Anhanguera
Sem casa, sem Floresta, sofre o guerreiro
Corrida sem destino de intocadas raças
Busca, em vão, pelas trilhas, não há caças
Amazônia era legal, está se tornando virtual,
Pouco a pouco chegando ao fim
Revoada sem destino, passa o passaredo
Asas e bicos queimados, mortos de medo
Jauaperis, Yanomanis, Arawetés
No Rio Javaés sumiram os Tucunarés
Xô Caburé, amarelinho, andorinhão,
Xô Cardeal, araponga, arara, azulão
SOS Tupã e deuses de todas as fés
Amazônia era legal, está se tornando virtual,
Pouco a pouco chegando ao fim
Tum, tum, tum... acelerados os corações
Será que o Negro desviará do Solimões?
Foi o Boto... Foi o Boto... Sedutor de cunhantãs
A mata perdendo o verde... Vingança dos céus
Anhangá sopra línguas de fogo todas manhãs
Queima igual Sodoma, de qual pecado serão réus
Xô Patativa, xô sanhaçu, choroso canto do Uirapuru
Amazônia era legal, está se tornando virtual,
Pouco a pouco chegando ao fim
Araguaia, Tapajós, Tocantins, Xingu
Rios morrendo, onde viverá Pirarucu,
Sem pássaro no céu, lago sem tracajá
Tristeza no Jawary, silencia o Boi-Bumbá
Não tem mais Caprichoso, adeus Garantido
Veio a queimação, cantar perdeu o sentido
Xô Figuinha, xô flautim, xô pequeno curumim
Amazônia era legal, está se tornando virtual,
Pouco a pouco chegando ao fim
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