A moça de vestido negro

Em uma tarde de sexta

sentado em um bar

com um copo na mão

os olhos do moço

cansados de andar

tiveram uma visão.

Nem nas noites

vividas em chiloé

viu tamanha inspiração,

resistiu a Pincoya

e a Sirena, mas de nada

mas de nada

com tamanha admiração.

Os olhos do moço

bastardo,ficaram toda

noite numa só direção.

Nem as duas feiticeiras

ao lado conseguiram

chamar sua atenção.

A moça sentada

vestida de negro

caderno na mão,

é certo, não sabia

dizer a razão

de tamanha apreciação.

O moço que andou

em tantos cantos do mundo

nunca se assombrou,

mas quando mirou

nos olhos da menina

seu coração quase parou.

Dois mil e quatrocentos anos

dizia ele ter a moça

de idade então,

porque com certeza

os gregos usara-na

como fonte de inspiração.

Seus cabelos negros:

águas amazônicas

que escorriam pelas mãos.

Sua face tão linda

somente o espelho das águas

merecia tal comparação.

Quando a tarde já era,

agora e só se via

a negra escuridão

o moço por sorte

a tomou pela mão.

Perguntou-lhe se gostou

do poema que outro dia

por outras mão lhe mandou

a moça admirada o alertou:

não saber ela ser ele

dos versos o autor.

Naquele momento o moço

teve certeza:

um dia a terra parou

foram aqueles olhos

um dia estrelas

por quem a Terra se apaixonou.