AMOR PARRUDO
Das tantas formas de amor que tive,
em muitas me lambuzei, acudi, amamentei,
respinguei faces da minha alma.
Nessas tantas vozes, por vezes raivosas,
me vi abraçado sem temor,
encantado com louvor,
aquecido sem dor.
Nesse amor meio bicho, meio fardo,
soei tantas trombetas aflitas,
afiei as lanças dos meus medos,
alforriei fantasmas não cativos,
só aveludados.
Cada teco desse amor bendito,
aliado às farsas que a vida ungiu,
fiquei cabisbaixo buscando o ar,
destemperado por me ver desnudo de luz.
Nesse amor berrado. descamado e nada encardido,
entremeado pelas fuligens do pó atroz.
atraquei em mim mesmo sem suor.
Fui fruto de amores calados,
néctar de amores estremecidos,
chão de amores aguerridos.
Agora, por certo,
farei ninho desse amor parrudo,
destravado das névoas do adeus,
sabedor de cada pétala ungida,
rompida, cerzida, remida,
lépido porto mais que aquecido,
mais que aflorado,
mais todo meu.