Balé de Letras
Todo mundo pensa que é fácil assim
Escrever um poema sem versos e rimas
Tudo é ainda mais simples do que se faz
Só me resta agora sentir que o sentido
Tenha efeito e que este efeito transforme
O modo de pensar de se agir
Ou ainda que transborde o mundo
Numa maravilha infinita
Onde todo mundo canta e dança
Uma dança diferente na mesma melodia
Como se fossemos extraterrestres
Numa orgia de palavras e gestos
Enlouquecidos pelos dialetos
Num batuque do pandeiro ao grito
Gemido da guitarra esfolando-se
Nos dedos cansados de um violinista
Um caos das estrofes musicais
Um desconcerto na chama da criação
Criatura e criador armando-se
Num carnaval de números e letras
A cada batida do coração
Um grito se ouve ecoar
Na frigidez dos dias em aberto
Já sei como fazer, escrevo por escrever.
Palavra incerta vai dizer
Recriminando o tempo que me resta
Na vasta e certa companheira
Minha louca paixão
Minha motocicleta
Que nunca me deixa
Que não me pergunta
Aonde vou?Com quem estava?
Agora é chegada a hora
De me despedir
Deixando apenas
Um sonho enturvado
Num balaio de letras
De um poema incerto
Descrito
Pelas palavras não ditas...
Mirão da Estrada