QUALQUER JEITO
Às vezes me interrogo:
Por que falo e não somente escrevo?
A linguagem oral deixa-me ébrio
E na escrita desembrulho os pacotes...
Pacotes de palavras que são tesouros...
Quando a semântica me envolve,
Sinto-me livre, o papel fica amassado
E cheio de uma necessidade intrínseca
De debulhar termos de ontem e de hoje,
Então a inspiração decola e eu me rasgo...
A caneta fica deveras engasgada
Diante de um painel lúdico!
Há conchavos poéticos que me aliciam,
Outros que me assediam a mente
Buscando em mim a travessura da criação.
De vez em quando sempre me interpelo:
Por que não deixo de escrever e apenas falo?
Sinto-me arredio quando o linguajar é chulo,
Então a sensibilidade aterrissa solenemente
Perante enxurradas de construções sintáticas
E a estilística cobra de mim os aforismos...
Ah, melhor talvez fazer leilão do patético,
Assim essa tão fadada liberdade de compor
Possa emitir um diagnóstico em definitivo...
Afinal, falando ou escrevendo, eis a arte!
DE Ivan de Oliveira Melo